No comércio exterior, tempo é prejuízo.

O momento não poderia ser mais conveniente para tratar deste assunto no âmbito do comércio exterior: o mercado interno sofre com inflação, alta do desemprego e do dólar e, como se não bastasse, problemas sociais/políticos que em nada colaboram.

E não é preciso nem informar aqui o número destes indicadores, sentimos a dificuldade na pele, é o carro que vendemos ao invés de trocar, “vagas” de emprego que pagam salário de analista com responsabilidade de supervisor, aquele sonhado MBA que precisará esperar ou o dinheiro da entrada no imóvel que continuará na poupança por mais tempo.

Não temos coragem de assumir uma dívida de longo prazo.

Se no mercado interno e como cidadão brasileiro está difícil, negociar no comércio exterior é ainda pior, temos o mundo todo influenciando exponencialmente nas exportações e importações. É uma época que não perdoa demorar na tomada de decisões, raramente “esperar para ver” resulta em um cenário melhor, pois a posição do Brasil no mercado mundial não permite que tenhamos oscilações positivas, representamos (há muito tempo) menos 2% do comércio mundial e dependemos demais dos nossos dois principais parceiros comerciais (China e EUA).

Mas chega de números e fotos imaturas, vamos analisar situações práticas de importação para explicar melhor.

Compras Internacionais e o Mercado de capitais.

Compras internacionais foi uma das experiências mais recentes que desenvolvi e gosto da relação que há com o mercado de capitais, mas tempo aqui também é artigo de luxo. No mercado naval que atuo, predominam compras rápidas e simples que precisam atender estoque de consumíveis e diversos acessórios para manutenção da frota.

Mas as compras grandes para os novos projetos de construção são complexas, há muita engenharia envolvida, embarcações não são fabricadas em escala como carros, precisam se adequar para o segmento que vão atuar (Petróleo, pesca, transporte…) e as necessidades do cliente. Portanto, não é estranho uma compra levar mais de 1 mês ou 2 para fechar.

E o que são 2 meses no mercado cambial desse Brasiusão, não é?

Cotação do Dólar/Real Brasileiro – Não precisamos de um gráfico para mostrar o que acontece nesse ano, então vamos lembrar como a crise americana de 2008 nos afetou.

Lembrando que além da compra, sofremos com a variação cambial quando pagamos os impostos de importação, armazenagem e frete internacional.

Claro que o valor das moedas também cai, mas não com a mesma oscilação que sobem, então as vezes esperar pode ajudar, mas isso significa atrasar (ou perder) projetos, comprometer fluxo de caixa, além destes ganhos serem irrisórios dependendo de como o mercado de commodities está.

É normal uma embarcação PSV (Platform Supply Vessel) ter mais 100 km de cabo elétrico, então o mercado de cobre influencia no preço final do projeto, mesmo que muito pouco comparado ao minério de ferro, ou você acha que todo o aço utilizado é comprado em uma semana?

Frete Internacional

Aqui também ocorre forte oscilação nos preços, existem épocas que vejo mais estabilidade com criptomoedas do que quando coto um frete internacional. Porém neste caso o tempo penaliza severamente se dedicar muito esforço, seja pedindo desconto ou leiloando valores porque você acha uma boa ideia passar target (Valor a superar do concorrente), estará aumentando as chances de não conseguir embarcar na data cotada.

E não adianta brigar com o agente de carga porque não embarcou e o próximo navio é em 14 dias, é bem provável que a culpa seja sua.

Duas semanas é o que basta para o dólar disparar com um escândalo político nacional, aumentando os custos já mencionados (Impostos e armazenagem). E se esse embarque marítimo de duas toneladas precisar vir no modo aéreo porque quis economizar 30 dólares, entenderá da pior maneira o título deste texto.

“- Oi Jonas! Tem como cotar um helicóptero para buscar nosso container no navio? Ele tá demorando muito!”

Custo portuário/aeroportuário.

A armazenagem nos terminais alfandegados é cobrada por tempo e o valor é bem superior em comparação a um armazém comum, a correria para terminar os trâmites da importação é intensa e todos os prestadores de serviço envolvidos participam ativamente, inclusive o terminal, ele não quer ganhar dinheiro com armazenagem, negócio bom para ele é mercadoria circulando.

Mas problemas acontecem.

A importação pode parametrizar em canal amarelo e o fiscal da RF lhe multa por classificação fiscal incorreta da mercadoria, digamos que custou o mínimo (500 reais), você confere e está claro que o fiscal errou feio, então resolve procurar o despachante aduaneiro para contestar a decisão.

Mas e se a armazenagem estiver custando 170 reais/dia? Será que compensa o tempo decontestar até o fiscal se manifestar? Talvez o abençoado teime e negue voltar atrás na decisão. Lembre-se, é possível contestar a decisão depois de tirar a mercadoria do terminal, pagar a multa não significa estar de acordo.

“Não vá para a guerra sem a certeza da vitória” – Não lembro de quem é a frase, deve ser do Sun Tzu, Napoleão… Ou da Clarice Lispector.

Ou talvez o problema seja com um de seus prestadores, como um conflito com o agente de carga causado num embarque de frete incluso (Prepaid), se tiver condições de assumir o custo e a discussão se demonstrar difícil, pague e deixe claro que o assunto será resolvido com calma posteriormente.

E se mesmo depois demonstrarem uma postura de desdém com o assunto, adicione-o à sua lista de rancor, qual o problema? Se não me valorizou quando eu era Prepaid, não adianta me procurar para fechar Collect (Frete por conta do importador).

***

Estamos acostumados a nos preocupar apenas com a armazenagem, mas as oscilações de custos estão acontecendo desde que iniciamos a negociação da compra. Não podemos evitar que aconteçam, mas nos mantendo informados podemos prever a fim de economizar o que for possível, pode ser decidindo registrar a Importação hoje, ou fechar um frete marítimo antes que o aumento imposto pelos armadores com GRI (General Rate Increase) entre em vigor.

Publicação em parceria com:

Jonas Vieira

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Jonas Vieira

Quem é o Jonas?

É um cara formado em comércio exterior, que trabalha há mais de dez anos com importação, compras e logística internacional, e continua apaixonado pela falta de rotina que essa vida tem! Agora ele quer dividir essa experiência com todos, de forma simples e bem humorada.