Os blocos econômicos Mercosul e a União Europeia (UE) concluíram dia 28 de junho a negociação do Acordo de Associação entre os 2 blocos, o PIB somado de ambos está por volta de US$20 trilhões, além representar um mercado de 780 milhões de pessoas.
Só estes dois números nos convencem que, qualquer acordo com a UE é importante para o Brasil e este abrange diversos assuntos que afetam nosso comércio exterior, tais como:
- temas tarifários;
- natureza regulatória;
- serviços;
- facilitação de comércio;
- barreiras técnicas; e
- medidas sanitárias e fitossanitárias.
Cada um desses temas rende muita discussão, por isso, vou tratar de forma mais abrangente e baseada em dados de como poderá ser positivo ao comércio exterior brasileiro.
1 – Reduzir a dependência brasileira com China e Estados Unidos.
Considerando até maio deste ano, Estados Unidos e China representaram 40,6% do destino de nossas exportações, é natural que as duas maiores economias do mundo estejam em 1º e 2º lugar, o problema é:
Quanto mais concentramos nosso comércio nestes dois países, mais sensíveis nos tornamos a qualquer efeito econômico e geopolítico que eles sofram.
Dos 10 principais destinos de exportação, temos apenas Países Baixos, Alemanha, Espanha e Itália que pertencem a UE e estes 4 juntos representam apenas 9,9%.
Se contarmos todos os países do bloco, não alcança 20%.
A preocupação é válida pois, são diversas razões (por vezes, levianas) para um país reduzir ou deixar de comprar de outro, por exemplo:
- Guerra comercial que estamos presenciando (e sofrendo)
- Viés político
- Lobby de outros países
- Crise econômica (como a desvalorização da moeda chinesa)
- Trump dormir de calça de jeans
- Disputas na OMC (Organização Mundial de Comércio)
Com o novo acordo, teremos a oportunidade de desenvolver o mercado da UE com mais celeridade, por consequência, reduziremos a longo prazo a concentração China e EUA de nossas exportações.
2 – Nossos produtos serão mais competitivos.
De acordo com a íntegra do acordo, apenas 24% das exportações brasileiras entravam livres de tributos na UE, com o acordo, serão praticamente 100% das exportações do Mercosul que contarão com preferências para melhor acesso ao mercado europeu, além de 90% das exportações do MERCOSUL, que terão tarifa zero de importação na UE no prazo máximo de dez anos.
Menos impostos e burocracia, tornarão nossos produtos mais competitivos, mas por que isso é importante?
Primeiro, porque quase metade de nossas exportações para a EU, trata-se de produtos básicos, logo, preço pesa muito na decisão, assim como perder menos tempo com burocracia, não se recupera o tempo perdido e para commodities é ainda mais sensível.
Adivinha? Comexvis
E segundo, porque precisamos do preço para compensar nossa infraestrutura medíocre. Sim, estamos fazendo incríveis progressos na parte de tecnológica com o Portal Único a Declaração Única de Importação (DUIMP) o programa Operador Econômico Autorizado…
Mas nos falta estrutura logística para honrarmos nossas exportações como acordado, é comum na vida da exportação casos como: perder o embarque porque não há navio disponível ou por poucas opções de portos, também de entregar menos mercadoria porque o caminhão quebrou devido as precárias estradas ou porque a carga foi roubada.
Se for para ter um fornecedor que trabalha aos ”trancos e barrancos”, que ele ao menos tenha preço e não seja burocrático, para compensar as demais dificuldades.
Estamos acostumados a trabalhar com a China desse jeito (claro que não é o único), sabemos como é.
3 – Maior estímulo e oportunidade para melhorarmos nosso comércio exterior.
Este acordo de livre comércio nos estimulará a vender e competir com outros 28 países organizados num bloco econômico que, mesmo sofrendo no momento com o assunto ‘’Brexit’’, estão deveras a frente de nosso Mercosul.
O comércio estreita relações e poderemos aprender com quem negociamos, sobre seus produtos/serviços, logística, planejamento a longo prazo acima de interesses político… A competitividade quando ocorre sem excessivas barreiras, sejam tarifárias ou não, estimula o desenvolvimento de ambos os lados.
E não é difícil provar que o comércio exterior brasileiro precisa melhorar, de acordo com dados do banco mundial, o Brasil é o 2º país mais fechado do mundo para o comércio exterior e de acordo com o Trademap.org (abaixo), representamos em 2018 apenas 1,2% das exportações mundiais.
Desanimante ler isso, será que vamos melhorar?
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O acordo levou 20 anos para ser assinado, claro que devemos ficar felizes, mas basta lê-lo na íntegra para concluir que ele está numa etapa que enfatiza objetivos e intenções em comum dos dois blocos, não há neste momento nada técnico e jurídico definido para brilhar os olhos dos exportadores e importadores brasileiros, portanto, precisaremos esperar os próximos capítulos desta negociação para conhecermos os resultados em forma de números e legislação.
Deixo abaixo alguns textos para complementar o conteúdo.
Top 5 acontecimentos do G20 – Kauana B. Pacheco
Primeiras impressões sobre o tratado de livre comércio UE x Mercosul – Claudia Simas
Mercosul e UE fecham acordo de livre comércio – Poder 360
Quem é o Jonas?
É um cara que trabalha há mais de onze anos com comércio exterior, importação e continua apaixonado pela falta de rotina que essa vida tem! Aliando seu amor pela escrita, desenvolve de forma simples e bem-humorada, pois a leitura não precisa ser um fardo para ensinar.
E o que começou como hobby, rendeu a oportunidade de escrever e palestrar para empresas do ramo como Allog, Cheap2ship, Cronos, DC Logistics, Amtrans, Fazcomex, Logcomex, entre outras.
Quando não escreve, pratica artes marciais, enfrenta sua eterna sua pilha de livros, joga vídeo game desde o Atari e também curte ajudar os outros profissionalmente, seja trocando uma ideia ou com soluções para quem está em apuros.
Talvez ele possa te ajudar, que tal procurá-lo?