No início da pandemia, quando as portas se fecharam, as pessoas se isolaram e os países entraram em lockdown. Nada entrava e nada saía, as ações despencaram 30% em um único dia por causa das incertezas, e uma corrida em direção aos supermercados teve início pelo medo de desabastecimento. E assim o termo “logística mundial na pandemia” surgiu de maneira a acompanhar as mudanças de cada fase que a doença submeteu o mundo.
Não se sabia muito sobre aquela doença misteriosa que estava matando milhares de pessoas na China, apenas que havia iniciado em Wuhan (capital da província de Hubei), mas em pouco tempo a logística foi se movimentando em direção ao caos.
Logo de início surgiram as demandas de exportação de máscaras descartáveis, já que os empresários brasileiros viram oportunidade de ganhar muito dinheiro ao enviar todo o estoque para a China.
A logística pandêmica envolveu a exportação em nível mundial de:
- máscaras e outros EPIs (Equipamentos de Proteção Individual);
- respiradores;
- medicamentos que prometiam prevenir ou curar a doença (mesmo aqueles sem eficiência comprovada);
- vacinas;
- kits de intubação (anestésicos e outras drogas) para pacientes internados em casos graves nas UTIs dos hospitais.
Quais foram os impactos da pandemia na logística mundial?
Primeiramente, é possível lembrar com facilidade que as viagens de turismo e negócios foram suspensas e, com elas, as demandas por voos com passageiros. No início, fez com que as companhias aéreas levassem a maioria das aeronaves para os pátios, demitissem milhares de pessoas ou ainda, em casos mais graves, fechassem as portas (Skift).
Em seguida, a demanda por consumo caiu drasticamente, já que as pessoas tinham incertezas a respeito do que aconteceria com a economia e com o mundo, o que tornou a oferta de espaço dos navios muito maior do que a procura, levando a uma queda brusca nos fretes por algum período.
Em fevereiro de 2020, o frete marítimo para um container de 40 pés era de menos de mil dólares. Enquanto em dezembro de 2020 um frete saindo da China para os Estados Unidos chegou a inacreditáveis 38 mil dólares por um único container.
Impactos no Transporte Marítimo
Nos primeiros dias da pandemia o frete internacional despencou por conta de um certo conservadorismo dos empresários. Eles acreditavam que o consumidor não iria às compras – mesmo diante das notícias de pessoas fazendo filas em supermercados para comprar papel higiênico até zerarem todos os estoques.
Somado a isso, a China estendeu o seu feriado e emendou com o lockdown, o que ocasionou um acúmulo de estoque de produção no seu território. Como resultado, o frete internacional saiu de nenhuma demanda para mais que o dobro de toda a alocação disponível no mundo em apenas um mês.
Atualmente com uma fila de 60 navios em um dos portos mais importantes no mundo, o Porto de Los Angeles sofre com falta de espaço físico para atracação de embarcações e acomodação de unidades vazias. Efeito herdado dos dias mais difíceis da logística mundial na pandemia que ainda irá perdurar por algum tempo.
Impactos no Transporte Aéreo
O transporte aéreo tem a maior vantagem que se espera da logística internacional: a velocidade. Contudo, de nada adianta a rapidez se ninguém precisar entregar produtos ou se pessoas não precisarem ir de um ponto a outro.
Em um primeiro momento, os aviões deixaram de circular e o frete de cargueiros disparou, já que 90% do transporte aéreo do comércio internacional é feito por meio de aviões de passageiros.
Entretanto, com a demanda por máscaras no Brasil, álcool em gel e respiradores, a oferta de aviões de cargueiros não foi suficiente. Isso fez com que as companhias aéreas precisassem adaptar seus aviões de passageiros para transportar cargas, seja em cima das poltronas ou removendo-as. E, na maioria das vezes, realizando esse transporte por uma modalidade recém-inventada, chamada de CARGO PAX.
Houve um momento específico no qual se acreditava que a quantidade de vacinas transportadas pelo mundo ocuparia todas as aeronaves existentes. Gurus do mercado especulavam a necessidade de parar com todo o transporte aéreo apenas para transportar imunizantes contra o coronavírus.
No entanto, logo percebeu-se que transportar vacinas já é uma realidade para a logística mundial há muitos anos.
Impactos no Transporte Rodoviário
O transporte rodoviário, pelo menos no Brasil, foi aquele menos afetado na logística mundial na pandemia. Contudo, quando se fala de cenário global, o impacto foi – e continua sendo – significativo.
Na Índia, país que teve um lockdown expressivo em julho de 2020, nenhum caminhoneiro podia sair de casa. Era possível encontrar saídas de navio e espaço em aeronaves, mas as cargas não chegavam aos portos e aeroportos. Tal situação gerou acúmulo de cargas que levou meses para ser resolvida.
Na Europa, que atualmente está na quarta onda da pandemia, o represamento de cargas fez com que a situação do transporte rodoviário se igualasse ao caos que se vive nos EUA. Com falta de chassis, falta de motoristas e transportes cada vez mais caros para os importadores e exportadores.
Quais as melhorias implementadas na logística mundial na pandemia?
Todos tiveram que se reinventar. Armadores entenderam melhor como funciona seu negócio. Agentes de carga deixaram de tentar atender os clientes especuladores e voltaram suas estratégias para os importadores e exportadores mais sensatos e conscientes.
As companhias aéreas tiveram que mudar a forma com a qual utilizavam sua frota. Enquanto autoridades de todo mundo trabalhavam para automatizar a liberação de cargas sem que precisasse haver contato humano.
As principais melhorias implementadas na logística mundial na pandemia estão ligadas a novos aprendizados com os quais os profissionais de Comércio Exterior precisaram atuar, ainda que cada um executasse a sua função trabalhando em casa.
Esse trabalho tornou possível a entrega daquilo que fosse necessário chegar ao destino. Desde produtos específicos para o tratamento de Covid-19 até equipamentos para que as pessoas pudessem fazer exercícios em casa.
O que esperar do futuro da logística mundial na pandemia?
Do futuro podemos esperar uma logística mais automatizada, com mais ferramentas, indo além do operacional e passando para o estratégico para abastecer o mundo, independentemente da crise que o mundo esteja vivendo.
Os profissionais de logística aprenderam que existem alternativas para não deixar o container parado, seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, mesmo que tenhamos novamente um lockdown ou esteja tudo funcionando perfeitamente.