Quando entrei no curso de Comércio Exterior, minhas duas maiores preocupações eram absorver o máximo de conhecimento possível e melhorar urgentemente meu inglês – sempre fui um aluno nota 7 e 8, mas prestava muita atenção nas aulas e interagia com os professores, já o inglês, eu corri atrás de aulas particulares e outras formas que funcionavam no meu aprendizado.
Estágio com experiência.
Por volta do terceiro ano do curso comecei a buscar um estágio em comércio exterior, mas me revoltava com as respostas recebidas: ”seu inglês é ótimo, mas queremos alguém com experiência prática” ou ”legal sua dedicação no curso, mas você não trabalhou na área ainda né”…
Ou você, jovem, acha que é de hoje que começaram a exigir estagiário com experiência?
Bem, queriam com experiência, então fui atrás, me candidatei na empresa Júnior de Comércio Exterior de minha Universidade. Estagiaria lá de graça em troca de conhecimento.
Você pode ter sua opinião sobre estágios não remunerados, mas não é o assunto aqui, só lhe adianto que não me arrependo e a maior parte que estagiou comigo e seguiu na área, está bem empregada e com certeza não se arrependem.
Comércio exterior: botando a mão na massa.
Voltando ao assunto, lá aprendi a conversar com os exportadores, corrigir documentos, desenvolver os trâmites, usar o Siscomex e todo o despacho aduaneiro… Era um clima agradável para aprender com os professores enquanto trabalhava, sem dúvida foi proveitoso, pois 10 meses depois eu estava empregado como Analista de Importação na indústria naval.
Nesse momento, meus amigos, a p… do negócio ficou sério.
O comércio exterior na faculdade é você tomando banho de sol à beira da piscina, seus professores estão dentro dela, dizendo como a água está maravilhosa e o que você deve fazer para nadar. Quando decide ingressar no mercado, colocando o primeiro pé dentro da piscina, seu amigo realidade te joga dentro para descobrir que a água está gelada, a piscina é funda demais e aquela barbatana não parece ser de um golfinho.
– Acho que estou pronto, mas vamos com calma!
– Aham, pode deixar.
Mesmo que no meu primeiro emprego eu tenha tido ótimos colegas e superiores para continuar o aprendizado, acredito que o curso de comércio exterior poderia ter me preparado melhor para encarar o mercado de trabalho.
Não, não estou aqui para reclamar do meu passado, minha intenção é dividir com vocês minhas experiências para ajudar a nova geração de profissionais a se preparar melhor.
Velocidade do trabalho.
Durante o curso, aprendemos com muita calma sobre classificação fiscal, cotação, conferência dos documentos de embarque… Tomando de uma a duas aulas para aprender cada assunto, posteriormente temos um trabalho em grupo na sala, com uma hora ou mais tempo para elaborar
Esse tempo de sobra e sossego da aula nos ilude sobre o dia-a-dia da vida profissional de comércio exterior.
Uma hora para conferir documento de embarque? Você acha mesmo que isso vai ocupar 1/8 do seu dia de trabalho? A complexidade do produto pode exigir mais tempo, mas aqui não se pode perder mais que dez minutos.A parametrização tem hora, registra logo essa importação/exportação ou vamos pagar mais armazenagem!
Não achou a NCM desse primeiro ainda? Mas o cliente tem mais dez produtos diferentes para vir junto, tem que achar agora de manhã, se não ele procurará outro que o faça.
O que pode dar errado?
Se tem algo que não aprendemos no curso é sobre a capacidade que uma pessoa envolvida na IMP/EXP tem de comprometer uma operação inteira.
Aprendemos na aula quais documentos são necessários, as multas naquelas aulas chatas com o Regulamento Aduaneiro, conceito de demurrage e detention… se fosse só isso, a página ComexDaDeprê no Facebook, não teria mais de 55 mil curtidas.
Ótimo conteúdo para rir do que me faz sofrer, também estão noInstagram.
E como resolver as encrencas para devolver um container vazio? Como fazemos quando embarcam a mercadoria, e exportador e agente combinam de fazer essa surpresa? Tem problema esse CE Mercante com peso bruto diferente do BL? Vale a pena eu discutir com o fiscal por causa da multa enquanto a armazenagem segue subindo?
Isso tudo aprendi apenas na prática, e não importa se você está 2, 5, 10 ou 20 anos trabalhando com Comércio Exterior, você ainda não viu todas as m… dificuldades que podem ocorrer.
Quando que eu vou usar isso?
Aula inútil é algo que todos os cursos têm em comum e boa parte delas apenas descobrimos no trabalho que… eram inúteis mesmo, no entanto tem uma parcela delas que não é, apenas faltaram mais exemplos práticos.
Lembro da aula de Economia, começamos aprendendo sobre inflação, deflação, PIB, balança comercial, juros… até aqui tudo certo, mas logo em seguida começamos a aprender uns cálculos malucos para encontrar valores que ninguém entendia porque calculávamos, teve até briga na sala de aula.
Eu queria lembrar mais sobre estes cálculos exatamente, mas esqueci tudo que havia decorado logo depois que terminei a prova.
Não somos economistas, então porque não nos informaram detalhes mais simples e que afetam visivelmente nosso trabalho? Como ficar de olho na decisão do Copom sobre a Selic, se ela subir, o dólar cai e vice-versa, basta alterar 0,25% para as empresas reverem o planejamento financeiro, de investimentos ou parcela dedicada à exportação.
Outra matéria é a Geopolítica, a guerra comercial que os EUA começaram sobre o aço refletiu imediatamente no Brasil, e que tal conversar sobre as ilhas artificiais que a China está criando? Como elas afetam o frete marítimo? Estes pedaços de terra, fortemente armados, estão invadindo águas internacionais, muitos acreditam que esta é a maior ameaça, no momento, capaz de iniciar uma guerra mundial.
Isso não vai acabar bem. – Fonte
Responsabilidade de cada envolvido.
Outro assunto que fica demais na teoria em sala de aula: somos apresentados aos prestadores de serviço que participam das operações, mas tende a ser de forma tão vaga e meramente conceitual, que sequer consegue despertar nosso interesse na carreira.
O Despachante Aduaneiro é responsável pelo Despacho Aduaneiro (ah vá…), mas isso quer dizer que QUALQUER multa ou prejuízo financeiro que ocorrer nesta etapa, é culpa do despachante? O original do BL/AWB emitido incorretamente, é sempre culpa do agente de carga, NVOCC ou armador?
Essa dificuldade em conhecer os verdadeiros responsáveis tende a nos fazer apontar o dedo para as pessoas erradas, mesmo que sejamos educados.
Mas sabemos como os jovens no início de carreira (não todos, é claro) tentam engrandecer o próprio trabalho, enfatizando espalhafatosamente o erro dos outros.
E normalmente acaba assim.
Isso quer dizer que a faculdade é dispensável? Não acredito, mas sugiro procurar um trabalho assim que tiver a noção do que provavelmente lhe agradará, pois, o conhecimento prático permitirá que faça as perguntas certas na sala de aula.Afinal, o interesse em aprender é nosso, não culpe seu curso pela sua preguiça.
São diversas áreas disponíveis para atuar, importação e exportação são dois mundos distintos, assim como seguir carreira num Despachante, Trading, agentes, armadores, direto na indústria, entre outros.
Reitero novamente, estou aqui para dividir minhas experiências de transição ‘facul’ para trampo e, francamente, há tanto mais para se falar sobre isso que, merece uma parte dois, não concorda?
Publicação em parceria com:
Jonas Vieira
https://www.linkedin.com/in/jonasvieira/
Quem é o Jonas?
É um cara formado em comércio exterior, que trabalha há mais de dez anos com importação, compras e logística internacional, e continua apaixonado pela falta de rotina que essa vida tem! Agora ele quer dividir essa experiência com todos, de forma simples e bem humorada.
Palavras chaves: cheap2ship / c2s / frete internacional / redução de custos / comércio exterior / logística / cotação de frete / importação / exportação