Este calor de janeiro, que novamente fez eu desejar ter nascido na Noruega, me lembrou desse mesmo mês em 2012, quando pela primeira vez eu entrei em conflito por causa de dress code.
Trabalhava numa pequena empresa onde as regras de conduta, postura e vestimenta eram determinadas na informalidade e jurisprudência, ou seja, bastava olhar como os mais antigos e chefes se comportavam e vestiam para copiar. Não havia uniforme, seguíamos o clássico: calça jeans, calçado fechado (Exceto pantufa) e camiseta básica ou polo.
Mas neste mês específico, eu e demais colegas de sala estávamos preocupados com nosso ar condicionado, um guerreiro chinês de marca desconhecida e nome impronunciável que, ao longo de dezembro, notamos que estava perdendo as forças, o calor era constante, mas tínhamos que baixar um grau a cada semana que passava.
Vamos chamá-lo de Hyoga.
Na primeira semana de janeiro, o mirrado Hyoga não conseguiu mais nos proteger das cruéis forças calóricas e ficamos à mercê do friozinho que entrava da sala ao lado, produzido por um robusto e confiável aparelho sul coreano, de fácil pronúncia por haver apenas duas letras.
A horda de calor não deu trégua e continuava a nos castigar, eu transpirava enquanto realizava as importações e era impossível raciocinar e executar as funções na usual qualidade e tempo. A chefia estava ciente do problema e seguidamente lembrávamos da situação, mas ficou evidente pra mim que depois de uma semana pedindo pela manutenção do aparelho que
Não havia preocupação com o conforto do colaborador.
E isso ficou evidente porque quem poderia (E DEVERIA) resolver, trabalhava numa sala digna de gelar cervejas e não estava sofrendo junto. E numa segunda de manhã daquele verão, enquanto escolhia minhas roupas para vestir pensei, se não desejavam resolver o nosso problema, meu lado jovem e rebelde decidiu fazer algo a respeito.
Ao chegar no trabalho meus colegas me davam bom dia olhando para minhas pernas e com aquele sorriso sem mostrar os dentes que claramente dizia:
“ Isso vai dar uma treta maravilhosa, mas espero que dê certo.”
É bom ressaltar que, sim, eu estava de bermuda, mas ainda bem vestido – era uma peça jeans que combinava com o conjunto, além de que raramente recebíamos clientes no escritório. Quando meu chefe chegou, interrompeu o bom dia que dava a todos para olhar minhas pernas parcialmente desnudas e com depilação atrasada, olhou no meu rosto segurando um sorriso (e eu o meu, confesso que foi engraçado) e foi para seu iglu em forma de sala.
O silêncio daquele momento foi tenso e assim que ele saiu, notei que os demais riam baixinho e comemoravam a vitória, o dress code havia sido alterado e agora eu criava jurisprudência aos demais, tanto que naquele dia alguns passaram em casa no horário de almoço para vestir uma bermuda.
Estávamos confortáveis, a qualidade do trabalho e expectativa de vida haviam retornado, mas jovens não sabem lidar com a liberdade, pois na mesma semana alguns decidiram trabalhar de bermuda praia/tactel, regata, havianas e até Crocs!
Crocs no trabalho merece justa causa. (Brincadeira!)
Quando esse medonho calçado apareceu, Hyoga foi consertado no dia seguinte e recebemos um e-mail nos relembrando qual era o Dress Code da empresa. Hoje mais velho e prudente, admito que não agiria novamente dessa forma, mas foi legal ser o vanguardista da revolta e a vitória ter sido conquistada por um par de Crocs.
Não se preocupar com a auto estima.
Era meu primeiro dia no estaleiro (trabalhei em 3, por isso estou tranquilo de contar :P), estava sendo apresentado aos colegas dos setores administrativos e enquanto os cumprimentava, meu lado vaidoso já reparava nas camisas do uniforme que os homens utilizavam:
- O tecido amassava fácil
- Gola sanfonada e sem firmeza
- Cor mais sem graça que minha vida amorosa na adolescência
Eu tinha esperanças de que as camisas que eu receberia seriam de uma nova (e melhor) remessa, então ao chegar em casa, experimentei para ver como ficava e fiquei desiludido… Além dos defeitos mencionados, notei que tinha um botão a menos que uma camisa normal.
A sensação era de que a camisa estava aberta desse jeito.
Eu não estava apresentável para o trabalho, a sensação era de desleixo, mesmo sendo um uniforme, eu quero me sentir bem vestido, isso demonstra etiqueta e disciplina, principalmente para mim mesmo, também porque não me sentia confortável recebendo pessoas de outras empresas vestido daquela forma.
Simplesmente decidi não usar, comprei algumas camisas polo básicas, de cor similar ao do uniforme para também não ser o “diferentão” no escritório e assim me sentia bem, houve um pouco de resistência no início, mas adiante notei que ninguém se importava com dresscode.
Não se preocupar com as condições sociais.
Havia participado de uma reunião nessa empresa de comércio exterior, os líderes da operação e comercial estavam muito bem vestidos, camisa e calça social, sapato e sem gravata, não ostentavam marcas caras, mas o caimento estava impecável.
Homens, não é preciso usar roupa de marca para estar bem vestido, o caimento/assentamento é mais importante, um pequeno ajuste na costureira/alfaiate é o que uma simples peça precisa para demonstrar mais valor.
Depois da reunião, fomos dar uma volta para conhecer outros da equipe e as instalações da empresa e foi quando reparei que o dress code social era aplicado para todos os profissionais, achei um exagero, a grande maioria conversava pessoalmente com os clientes uma ou duas vezes por mês e sempre com horário marcado.
Porém quando conheci o novo assistente de importação da equipe, entendi o quão prejudicial podia ser.
Ele usava calças e camisa desbotada e sobrando em todos os cantos, o sapato estava gasto e tive a impressão de ser grande demais para o pé, sua vestimenta se destacava negativamente entre os demais e como já o conhecia um pouco pessoalmente por um amigo em comum, já tinha captado o problema.
Não tinha paletó e gravata, mas era grande demais no nível de não ser salvo nem pelo jovem Zac Efron.
Era seu primeiro emprego, sem condições financeiras para comprar roupas sociais e só receberia no próximo mês (imaginando que seria capaz de comprar posteriormente), evidente que pegou emprestado, pois não seria maluco de desobedecer o dress code no período de experiência.
Mesmo usando as peças conforme o dresscode, era evidente que ele estava deslocado perante os demais colegas.
Com certeza um ambiente de trabalho em que todos estão de calças e camisas bem alinhadas passa uma imagem séria e ninguém gostaria de parecer não se encaixar, e portanto negligenciar individualmente as condições sociais dos profissionais demonstra falta de empatia (babaquice creio ser o melhor termo) e inflexibilidade da empresa, o que provavelmente existia em outros importantes aspectos.
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As histórias são reais e as trouxe para estimular a discussão para quem precisa refletir sobre o assunto, creio ter deixado claro que não diz respeito apenas “ao que vestir”.
Hoje já vemos muitas empresas dos mais variados segmentos e tamanhos com dress codesflexíveis (amamos vocês por isso), porém são muitas ainda as que relutam em implementar essa inovação, o que poderia tornar o ambiente de trabalho mais agradável a baixíssimo ou nenhum custo.
Jonas Vieira
https://www.linkedin.com/in/jonasvieira/
Quem é o Jonas?
É um cara formado em comércio exterior, que trabalha há mais de dez anos com importação, compras e logística internacional, e continua apaixonado pela falta de rotina que essa vida tem! Agora ele quer dividir essa experiência com todos, de forma simples e bem humorada.
Palavras chaves: cheap2ship / c2s / frete internacional / redução de custos / comércio exterior / logística / cotação de frete / importação / exportação